Há um conceito importante a ser esclarecido para a população que é a diferença entre veículos eletrificados e veículos elétricos. Os veículos eletrificados compreendem todos os veículos que possuem alguma tecnologia com tração elétrica, como por exemplo os híbridos comuns, mais conhecidos no país hoje. Já os veículos elétricos são os veículos que além de possuírem a tecnologia elétrica, podem ser carregados exclusivamente com energia elétrica, isto é, têm a possibilidade de não depender de combustíveis fósseis, é o caso dos veículos híbridos plug-ins e dos veículos 100% elétricos.
O ano de 2021 foi marcante para o mercado de veículos eletrificados, com recorde de vendas que atingiram a marca 34,9 mil unidades comercializadas.
Números que superam todas as previsões da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) e representaram um aumento de 77% sobre os 19,7 mil emplacamentos realizados em 2020. Ao compararmos a evolução dos elétricos de nov/20 com nov/21, dados atualizados do Denatran, vemos um aumento nos elétricos puros de 95% e híbridos plug-ins de 141%, realmente um crescimento impressionante.
Entretanto, 2022 promete ser ainda mais acelerado para o setor, que deve atingir a histórica marca dos 100 mil veículos eletrificados no segundo semestre deste ano, segundo projeção da ABVE. Para atender ao crescimento da demanda, grandes montadoras (empresas como a Renault, Chery, Volkswagen e Kia, por exemplo), já preveem, pelo menos, 13 lançamentos de modelos elétricos no Brasil que devem impulsionar ainda mais as vendas ao longo do ano.
Essa revolução elétrica era muito aguardada no Brasil, apesar de já ser uma realidade em diversos países do mundo. Um dos gargalos para o crescimento da frota de carros elétricos em terras brasileiras, era o seu valor elevado frente aos modelos com motor a combustão. Porém, os altos preços desses veículos têm origem no custo das baterias. Existe um número “mágico” que o mercado de mobilidade elétrica acredita ser a virada de chave do setor, e essa cifra é de US$100 o custo do Quilowatt-hora (kWh). Essa cotação viabiliza um crescimento exponencial do mercado de elétricos. O custo das baterias vem baixando muito nos últimos 10 anos e em 2021, fechamos próximo dos US$125.
Uma das maiores fábricas de baterias para carros elétricos do mundo ficará no Reino Unido. Com investimento de aproximadamente R$12,5 bilhões, a startup britânica prepara a construção de uma gigantesca fábrica, que já em 2024, prevê produzir cerca de 30 gigawatts-hora (GWh) por ano. Apesar do número grandioso, o Centro de Propulsão Avançado do Reino Unido calcula que a empresa irá atender apenas 1/3 do necessário para a indústria automobilística local. O Reino Unido deve proibir a produção de veículos a combustão a partir de 2030, com isso a demanda de baterias de carros elétricos por parte das fabricantes deve crescer nos próximos anos.
No Brasil, a redução no custo das baterias já impacta nas vendas, a comercialização de veículos eletrificados em 2022 começou em ritmo veloz: 2.558 emplacamentos nos 30 primeiros dias do ano, segundo a ABVE. Essa é a maior alta para o mês de janeiro desde o início da série histórica, em 2012. Se compararmos com o mesmo período de 2021, houve um crescimento de 93% nas vendas, totalizando 1.321 emplacamentos. No comparativo com 2020, que teve 1.568 emplacamentos, a alta é de 63%. A categoria de eletrificados reúne modelos 100% elétricos, híbridos e híbridos plug-in.
De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em todos os 26 estados e no Distrito Federal, já circulam veículos elétricos. Porém, a maior parte deles está concentrada nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Quando analisamos as cidades, existem mais veículos elétricos em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Alguns incentivos à eletromobilidade nessas regiões podem explicar esse cenário, como a criação de planos de mudanças climáticas com metas de redução de poluentes, incentivos para diminuir o IPVA, isenção do rodízio de automóveis e investimentos massivos em ampliação de infraestrutura de recarga. O Rio de Janeiro, por exemplo, foi o primeiro município brasileiro a implementar caminhões de lixo com zero emissão de gases poluentes, atualmente 10% da frota é elétrica.
Mas, com esse volume crescente de VE’s, como ficam os pontos de recarga? O carregamento para os proprietários de veículos 100% elétricos ou híbridos plugáveis já foi mais difícil, mas já começa a mudar. O Brasil está vivenciando uma crescimento no número de pontos de recarga instalados no país, empresas do setor, que já instalam de 70 a 80 pontos por mês, estimam chegar aos 100 pontos mensais até o segundo semestre deste ano. Em geral, os pontos de recarga são privados, de acesso restrito: pertencem aos proprietários, instalados em residências ou empresas que tenham frotas, ou de acesso público, como em redes hoteleiras, shoppings centers e supermercados.
E como a tecnologia vem mudando a forma de recarga? Em uma tomada residencial comum, os modelos mais comercializados chegam a levar entre 45 e 48 horas para completar o processo que, com a tecnologia utilizada nesses pontos, pode ser realizado em menos de cinco horas.
Um questionamento frequente do consumidor que pensa em adquirir um veículo elétrico é a conta de luz. Sobretudo em um momento no qual o país enfrenta uma crise hídrica que impõe uma bandeira de escassez energética na tarifa: são R$14,20 a cada 100 kWh consumidos.
Há um aumento na conta de energia, plenamente compensado com a redução de custos com o abastecimento de combustíveis fósseis. Essa despesa fica de três a cinco vezes mais barata. Quando a utilização de VE’s é empresarial, essa diferença fica ainda mais evidente, já que as empresas que eletrificam a frota frequentemente pagam bem menos pela energia, principalmente as que contratam pelo mercado livre.
Em no máximo cinco anos já será possível equiparar o preço dos carros elétricos e aqueles à combustão. Estudos mostram que os elétricos vão assumir mais de 50% das vendas a partir de 2030. Essa transição vai acontecer, mas ainda levará um tempo.