A construção de mais de 600 casas, a compra de três apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida ou de um imóvel no valor de R$ 645 mil. Isso é o que daria para ser feito, em tese, caso as 16 toneladas de ferro e cobre apreendidas pela força-tarefa da Polícia Civil fossem utilizadas para construções. Ao todo, em seis meses, o Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE) recuperou 200 toneladas de material, como baterias e outros metais – sendo 15 toneladas de cobre e 1 tonelada de ferro roubadas por criminosos.
O combate ao furto foi intensificado em agosto, quando o governador do Rio, Cláudio Castro, determinou a criação de uma força-tarefa. As polícias Civil e Militar, junto com as secretarias da Casa Civil e de Transporte, foram os órgãos escolhidos para integrar o projeto criado após o furto aumentar tanto a ponto de atrapalhar a prestação de serviços à população.
De acordo com a engenheira civil Bruna Vial Nunes, a quantidade de cobre confiscada pode ser usada em obras de 600 casas, enquanto o ferro pode ser utilizado na construção de cerca de sete imóveis. “Uma tonelada é equivalente a mil quilos, sendo assim, dá para converter esse quantitativo em outras utilizações. No caso do cobre, ele pode ser usado em vários lugares, como instalações elétricas e de telefonia. Uma residência de 70 metros quadrados costuma levar uma média de 25 quilos de cobre”, disse. Especialistas destacam que o cobre é um bom condutor e o quilo custa, em média, R$ 43.
Viciados alimentam ciclo do crime
O Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE) da Polícia Civil já fez duas operações nomeadas ‘O caminho do Cobre’. As investigações apontaram que os furtos de metais são cometidos por usuários de drogas para a revenda em ferros-velhos que praticam, assim, o crime de receptação. E, pela primeira vez, recicladoras foram alvos: elas transformavam o material dos ferros-velhos em matéria prima.
“Pode haver até um eventual funcionário ou ex-funcionário dessas empresas envolvido com algum furto, mas os principais responsáveis pelos furtos desses equipamentos são usuários de drogas. A cadeia começa lá embaixo, com o usuário de drogas que vai alimentando o restante da cadeia criminosa”, disse o delegado Felipe Curi, diretor do DGPE.
A Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) e a Delegacia de Defesa de Serviços Delegados (DDSD) são as especializadas que mais atuam na fiscalização de ferros-velhos e recicladoras, para checar se esses estabelecimentos estão adquirindo e comercializando materiais que são produtos de furtos.
Nos últimos seis meses, as duas prenderam 83 pessoas, interditaram 62 locais e apreenderam mais de 200 toneladas de materiais. Segundo a apuração do DGPE, as áreas onde esses crimes ocorrem com maior incidência são em municípios da Baixada Fluminense, Niterói, São Gonçalo, e bairros da Região Central e também da Zona Norte do Rio.
Enquanto a Polícia Civil realiza as investigações, a PM atua com base nos dados de inteligência da Civil e nas informações repassadas pela Secretaria de Transporte.
Furtos já deixam 2 milhões de passageiros sem trens
Segundo a Supervia, de 1º de janeiro a 23 de setembro deste ano foram registrados 390 furtos de cabos de energia e sinalização, totalizando mais de 22 mil metros de cabos retirados indevidamente do sistema. Por conta disso, entre janeiro e agosto deste ano, 975 viagens foram canceladas ou interrompidas, e mais de dois milhões de passageiros deixaram de ser transportados.
Para tentar reparar os danos causados, a concessionária afirmou já ter gasto mais de R$ 1 milhão, só em 2021. De acordo com Alexandre Rojas, especialista em transportes e professor da Uerj, esse valor poderia estar sendo investido em melhorias no sistema ferroviário.
“Os trens que estão em circulação são relativamente novos e podem andar rápido, mas as invasões da via impedem que haja maior velocidade. Atualmente, existem inúmeras interseções com ruas que limitam o trafego ferroviário. As necessidades de mudança já foram mapeadas, orçadas, mas nunca realizadas. Com este R$ 1 milhão poderia ser feito a manutenção do acesso às estações, permitindo que pessoas com limitações chegassem aos trens com facilidade”, diz.