O grande desafio no setor mineral no país é o financiamento de projetos, principalmente de pequenas e médias mineradoras, dizem especialistas. Para o gerente de inteligência setorial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Pedro Dias, que participou de evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a fase de maior risco geológico e outros desafios, como a volatilidade de preços, dificultam a obtenção de recursos para o início dessas operações.
“Os projetos têm nesse estágio o risco geológico muito levado e os mecanismos mais eficientes são os de participação e capitação em bolsa, além de investimento via fundo, que é o que vemos no mercado internacional. Além disso, os streaming [venda antecipada de minério], equity, ou royalties atrelados ao desempenho do projeto também são alternativas de financiamento. O BNDES tem um estudo para a atuação do banco via fundos, mas ainda não está concluído”, afirmou.
Segundo ele, é necessário que ocorra um trabalho para desenvolver competências dos agentes financeiros para fazer essa ponte entre o investidor e os projetos. “É necessário uma atuação mais forte desses agentes especializados para atuarem de maneira mais expressiva no setor.”
O BNDES, de acordo com o executivo, financiou R$ 25 bilhões em projetos de mineração desde 2002, tendo participado de grandes empreendimentos, como a expansão da Vale em Carajás (PA), o S11D, e a primeira mina de vanádio do país, a Vanádio Maracás, na Bahia.
Dias ressaltou que esse volume de recursos foi possível em razão do conjunto de linhas com prazos longos, que pode chegar a 20 anos a juros competitivos. “E esses financiamentos se estendem, muitas vezes, a vida útil do projeto. Agora, o BNDES está estruturando produtos com operadores com condições atreladas ao ESG.”
Para Eduardo Cardoso, diretor financeiro da Ore Investments, gestora de fundos especializados em aportes em mineração, o momento atual do setor exige investimentos, principalmente em metais em que há desbalanceamento entre demanda e oferta, como o cobre. “É uma oportunidade para o investidor. O mercado financeiro brasileiro passa por uma enorme transformação e vemos uma mudança do perfil do investidor. Ele está com foco maior no em projetos de longo prazo e nisso entra a mineração.”
Segundo ele, a Ore, primeira gestora brasileira que atua exclusivamente na mineração, troca o investimento por participação nas empresas. “É um modelo recorrente em outras partes do mundo e no caso especifico da Ore investimos de forma mais intensiva em projetos de exploração e também em minas de pequena escala.”