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Minerais críticos podem adicionar até R$ 243 bilhões ao PIB nos próximos 25 anos

Estimativa costa em estudo produzido pela Deloitte e AYA Earth Partners sobre principais obstáculos e oportunidades para o desenvolvimento do setor no Brasil e mundo
Imagem de wirestock no Freepik

Minerais como cobre, níquel, grafite, cobalto, lítio e terras raras ganharam destaque nos últimos anos por serem matérias-primas importantes de uma série de tecnologias de energia limpa, como painéis solares, baterias de carros elétricos, turbinas eólicas, entre outros. A estimativa é que a demanda por minerais críticos para energia limpa deve dobrar até 2030 e triplicar até 2040, de acordo com cálculo da International Energy Agency (IEA). Desde 2012, a maioria das novas fontes geradoras de energia instaladas no mundo já são de fontes renováveis. Em 2022, por exemplo, a proporção estava em oito fontes limpas em cada 10 instaladas no mundo, ainda segundo a IEA.

Neste contexto, esta é mais uma área em que o Brasil pode se destacar e se tornar um dos principais provedores globais de recursos para a transição energética. É o que aponta o relatório “Minerais críticos do futuro e o papel estratégico do Brasil na transição para uma economia de baixo carbono”, produzido pela consultoria Deloitte em parceria com a AYA Earth Partners, e obtido com exclusividade pelo Prática ESG.

Uma das conclusões é que, se o Brasil investir na produção dos minerais – ou seja, fazer o beneficiamento dos minerais que já extrai, separando os minerais valiosos dos rejeitos, o setor pode adicionar ao Produto Interno Bruto (PIB) cerca de R$ 30 bilhões até 2030. Considerando que a atividade também impulsiona outras, esse valor pode subir para R$ 42 bilhões.

Caso o Brasil invista em na produção de novas minas e comece a beneficiar os minérios que extrai das suas atuais reservas, subindo um patamar na cadeia de valor dos mesmos, para produção ativa, estima-se que haverá um impacto econômico de até R$ 233 bilhões em 2050. Mas, se for ainda além e passar a refinar também os minerais – etapa seguinte ao beneficiamento, o impacto econômico poderá ser ainda maior e alcançar até R$ 243 bilhões nos próximos 25 anos, consolidando o país como um polo de produção e refino de minerais essenciais.

O Brasil possui cerca de 10% das reservas globais de minerais críticos, incluindo a maior reserva mundial de nióbio, a segunda maior de grafite e a terceira maior de terras raras e níquel, além de disponibilidade de lítio, cobre e cobalto, fundamentais para tecnologias emergentes. Esse quadro fortalece a relevância do Brasil na cadeia global de suprimento de minerais críticos.

Hoje, o Brasil responde por apenas 0,09% da produção mundial desses minerais, apesar de possuir 10% das reservas globais.

Em 2021, foi estabelecida uma lista de minerais estratégicos dividida em três grupos: os minerais cuja importação é vital para setores econômicos; os minerais essenciais para produtos de alta tecnologia, como grafite, lítio e terras raras; e os minerais com vantagens competitivas para superávit comercial.

Contudo, o país ainda carece de um marco legal claro para regulamentar a exploração dos minerais críticos, aponta o relatório. Isso é, para os autores, essencial para atrair investidores e garantir um desenvolvimento sustentável. O argumento é que, sem um ambiente regulatório seguro, é difícil competir no mercado global de minerais críticos, onde a China, por exemplo, domina o mercado de refino, controlando mais de 60% da produção mundial.

“O futuro da cadeia de mineração passa pela discussão de modelos de consumo, geopolítica, impacto nas indústrias, no meio ambiente e nas comunidades. Precisamos desenhar modelos que o ser humano interaja com recursos naturais de maneira inteligente’, comenta Maria Emilia Peres, sócia e líder das Ofertas Integradas da Deloitte Brasil para Clima, Sustentabilidade & Equidade.

A executiva, que assina o estudo, explica que, apesar do potencial, há obstáculos importantes a serem vencidos, a começar pelo trâmite de liberação da exploração de novas minas, que leva cerca de 16 anos em média e exige investimentos de longo prazo e

políticas públicas alinhadas. O longo período, diz, se deve ao também extenso processo para conseguir todas as licenças para começar a operar. “É um processo necessário e cuidadoso, mas cuja duração é questionada e pode ser encurtada”, diz.

Além disso, apenas 35% do território brasileiro foi mapeado em termos de potencial mineral, o que exige um investimento considerável em estudos geológicos e em dados mais precisos para otimizar a exploração.

Hoje, as reservas mundiais estão distribuídas de forma relativamente diversificada em países como Brasil, Peru, Argentina, Vietnã, Tanzânia, China e Chile. Já a produção de minerais críticos é concentrada em poucos lugares: Indonésia, China, Filipinas, Austrália, Estados Unidos, Chile e Congo. O refino, por sua vez, onde o valor agregado é maior, está concentrado na China, fruto de políticas públicas de longo prazo.

Contudo, globalmente, a geopolítica de reservas, produção e refino ainda traz desafios para atender à expectativa de alta demanda. Esses gargalos incluem instabilidade política e guerras, falta de legislação apropriada, falhas na cadeia de suprimentos, concentração de refino e investimentos aquém do necessário.

A criação de um marco legal que favoreça o setor no Brasil é também importante para dar segurança jurídica e atrair investimentos para o desenvolvimento de tecnologia e infraestrutura para a produção e o refino, agregando valor aos recursos naturais e reduzindo a dependência do país de outras nações.

“Os países que dominam o refino e a produção começaram com políticas de incentivo há muitos anos, como Estados Unidos e China”, comenta Pedro Calil Lustoza Leão, gerente de Estratégia na Monitor Deloitte e quem contribuiu para a elaboração da análise. “O Brasil tem potencial de reservas, mas não consegue ainda refinar porque não houve incentivo no passado para gerar valor na cadeia, adiciona.

Ainda que não focados em mineração, estratégias político-econômicas como o Inflation Reduction Act (IRA) nos Estados Unidos, o UK Climate Change Act no Reino Unido e Green Deal na Europa, são exemplos recentes de incentivos à economia verde e à transição energética.

A conclusão da Deloitte é que o Brasil possui todos os recursos necessários para se tornar um líder global na exploração de minerais críticos e, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento sustentável. O crescimento da mineração brasileira, para os autores, não é apenas uma questão econômica, mas também uma oportunidade de posicionar o país como um modelo de sustentabilidade, inovação e liderança na transição energética mundial.

O setor de mineração representava em 2023 2,28% do PIB. Com exportações de US$ 42,9 bilhões, que corresponderam a 32% da balança comercial, o Brasil se destaca como um dos maiores exportadores globais de minério de ferro, ouro, bauxita, nióbio e cobre. O minério de ferro, especificamente, foi responsável por 61,8% do faturamento do setor naquele ano. “Este desempenho reflete não apenas a força do Brasil no mercado global, mas também seu papel central na cadeia de fornecimento de minerais essenciais”, destaca o relatório.

A posição estratégica no campo da energia, com uma matriz energética predominantemente limpa, também é citada como um trunfo para o país se posicionar como líder na transição energética mundial.

“Não podemos ficar no gerúndio. Temos de partir para discussões efetivas. Levantar os problemas e estruturar o que pode precisar de regulação e políticas específicas para ser efetivado”, diz Peres, da Deloitte.

A executiva reitera que a crise climática exige pensamento sistêmico e coletivo e, por isso, após algumas conversas, a Deloitte e a AYA resolveram organizar um grupo setorial que deve começar a se reunir em março para discutir os obstáculos e soluções para o desenvolvimento da cadeia de minerais críticos.

“Precisamos nos posicionar e não adianta nos posicionar isoladamente”, Peres. Ela pontua que a transição para uma economia de baixo carbono deve passar, necessariamente, pela demanda desses minerais. O que é possível fazer é discutir o melhor jeito de fazer isso, garantindo que a transição tenha o menor impacto ambiental possível e que seja justa.

Patricia Ellen, cofundadora da AYA Earth Partners e sócia da Systemiq Latam, lembra de outro estudo para dizer que o Brasil pode capturar até US$ 20 bilhões somente com baterias e veículos elétricos até 2030. “Com reservas significativas de níquel, lítio e cobalto, o Brasil pode aumentar sua receita e complementar mais US$ 7 bilhões ao PIB somente com a indústria extrativista”, comenta.

Os números fazem parte do relatório “Pontos de virada tecnológica para a transformação ecológica”, que o Instituto AYA acaba de preparar em parceria com Pacto Global da ONU – Rede Brasil, Instituto Igarapé, Systemiq e UK Pact. O estudo, que é uma continuação do que foi lançado na Conferência do Clima da ONU no ano passado, observa as cadeias de valor e oportunidade de investimento mais promissoras na jornada de transição ecológica brasileira.

Ellen adiciona que, o diversificado portfólio de matrizes energéticas verdes brasileiro representa quase US$ 40 bilhões na economia, citando como exemplo o biogás, a biomassa, a energia solar, a eólica, o biodiesel, o etanol, o hidrogênio verde e o biobunker.

A COP30, que será sediada em Belém, é, na visão das executivas, uma oportunidade para o Brasil mostrar seu potencial como um provedor global de soluções para a economia verde e a transição energética, em especial. No caso da mineração, ir além de reservas e mostrar que também consegue produzir e refinar com baixa intensidade de carbono, uma vez que sua matriz energética também é mais limpa.

“Precisamos posicionar as empresas brasileiras de maneira global e, para isso, precisamos de dados. Daí surgiu a iniciativa desse levantamento e de outros que estamos preparando”, finaliza Peres.