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Opinião: O cobre será o novo petróleo, escreve Otaviano Canuto

Imagem de Hier und jetzt endet leider meine Reise auf Pixabay aber por Pixabay

Os preços de commodities recuperaram suas perdas do ano passado, subindo mais de 25% até aqui em 2021 e, na maioria dos casos, já estão acima dos níveis prévios à pandemia (veja o gráfico). O ritmo de crescimento chinês desde o ano anterior e a recuperação econômica nos EUA a partir da vacinação são apontados como impulsores de demanda, enquanto restrições de oferta em alguns itens -petróleo, cobre e alguns alimentos- favoreceram seus ajustes para cima.

Alguns analistas começaram até a falar no início de um novo “super-ciclo” de preços de commodities, depois do período de baixa a partir de 2010. Se, por um lado, há uma expectativa de que o crescimento chinês eventualmente retorne a seus patamares da era do “rebalanceamento”, abaixo portanto daquele que sustentou a demanda global por commodities a partir de meados dos anos 90, por outro a perspectiva é a de uma forte aceleração macroeconômica nos EUA -e possivelmente também na Europa- puxada por pacotes de gastos públicos em infraestrutura verde.

É preciso lembrar que diferentes grupos de commodities têm suas próprias histórias, refletindo suas próprias condições de demanda e oferta. Embora seja sempre possível localizar momentos de flutuação conjunta, em que permanecem por longo tempo acima ou abaixo de suas tendências de longo prazo e configuram os “super-ciclos de preços de commodities”, ainda assim não se pode perder de vista suas diferenças.

Veja o caso do petróleo, cujo preço mergulhou em 2020 quando as restrições de mobilidade impactaram diretamente a demanda por seus derivados. Sua rápida recuperação recente foi recorde, ajudada pelos cortes de produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus parceiros. Mas a recuperação da demanda tem sido gradual, esperando-se que se firme ao longo deste ano, conforme a vacinação se desenrole e as restrições a viagens comecem a ser revertidas, especialmente nas economias avançadas. Permanece, porém, elevado o nível global de capacidade ociosa de produção de petróleo.

Já os preços agrícolas estão 20% mais altos do que um ano atrás, alcançando patamares não vistos há quase 7 anos. Os aumentos de preços foram impulsionados por quedas de oferta de algumas commodities alimentares, especialmente milho e soja, pela forte demanda por rações pela China e pela desvalorização do dólar americano. A soja atingiu recentemente seu maior preço em 88 anos.

Levando inclusive a forte inflação de alimentos em países não desenvolvidos onde, segundo um índice de preços de alimentos para países de renda baixa e média formulado pelo Banco Mundial, preços em março estavam 37% acima de um ano antes. Vários fatores foram responsáveis por isso, incluindo depreciação cambial, restrições de transporte, dificuldades logísticas e eventos climáticos. Nos últimos 30 anos, preços estiveram em patamares comparáveis mais altos apenas nos anos de “crises de preços de alimentos” em 2007-08 e 2011.

Em seu relatório de abril sobre commodities, o Banco Mundial sugeriu fatores de estabilização de preços de alimentos a partir do ano que vem. Tomando-se como base a pesquisa de intenções de plantio do Departamento de Agricultura dos EUA, a terra alocada para milho, soja e trigo nos EUA deve aumentar na próxima temporada -especialmente nos casos de soja e trigo. Isso se seguirá a um crescimento da oferta abaixo das tendências de longo prazo durante as últimas safras. Dado o peso dos EUA nessas commodities, caso as intenções se concretizem ajudarão a estabilizar os mercados globais de commodities alimentares.

Os preços agrícolas devem se estabilizar em 2022, depois de um aumento de 13% neste ano. Contudo, a evolução dependerá também da trajetória dos custos de energia, no curto prazo, e das políticas de biocombustíveis em resposta à transição energética no longo prazo.

É nos metais e, em particular, no cobre que a narrativa de um forte ciclo de alta tem aderência. Os preços atualmente em ascensão refletem a forte demanda na China, a recuperação global em andamento e interrupções no fornecimento de alguns metais. Em março, os preços de cobre, estanho e minério de ferro atingiram o máximo de 10 anos.

Olhando à frente, o pacote fiscal de infraestrutura proposto pelo presidente Biden nos Estados Unidos e a transição energética global para a descarbonização trarão impactos de demanda e preços diferenciados entre commodities. O grande pacote de infraestrutura do presidente Biden favorecerá as energias renováveis, associadas ao uso de veículos elétricos e baterias. As matérias-primas necessárias para baterias e motores de veículos elétricos -lítio, terras raras- já estão vivendo uma euforia de mercado. O cobre, por suas propriedades de conduzir eletricidade, tende a ser usado 4 ou 5 vezes mais em carros elétricos que em carros movidos a derivados de petróleo. O petróleo, por seu turno, não estará em sintonia com a “recuperação verde”.

Como sói acontecer nas condições clássicas de “super-ciclos”, haverá inevitavelmente um retardo na resposta da oferta no caso de cobre e outros metais. Só agora com o retorno dos EUA ao Acordo de Paris e o programa de Biden é que caiu a ficha de que o “verdejamento” de infraestrutura deverá ser para valer. Nenhum grande projeto de investimento em cobre foi aprovado nos últimos 18 meses e tais projetos tomam de 4 a 5 anos para operar plenamente. Prejuízos com investimentos no início do período de baixa da última década seguraram o ímpeto.

Três coisas a observar. Primeiro, até as sucatas de cobre vão ficar valiosas no futuro próximo. Segundo, vai ser interessante observar como projetos de mineração de cobre que respeitem salvaguardas ambientais, sociais e de governança terão de ser construídos, para estar em sintonia com os novos tempos. Terceiro, na próxima vez em que te falarem de “super-ciclos de commodities”, pergunte de quais estão falando.