Os preços do cobre atingirão cotação recorde neste ano, impulsionados pela recuperação da demanda chinesa, que ameaça exaurir os já baixos estoques, segundo previsão da maior comercializadora de metais de capital fechado do mundo.
Os estoques internacionais do metal, usado na fabricação de quase tudo, desde cabos de eletricidade até veículos elétricos e obras de construção civil, diminuíram rapidamente nas últimas semanas e chegaram ao menor patamar para esta época do ano desde 2008, o que deixa pouca reserva disponível caso a demanda chinesa continue a ganhar ritmo.
O contrato referencial de cobre para entrega em três meses é negociado a US$ 9 mil por tonelada, tendo se valorizado 30% desde a forte queda acumulada nos três meses seguintes à invasão da Ucrânia pela Rússia, quando os investidores temiam que a forte alta das fontes de energia afetaria a demanda por metais.
Kostas Bintas, cochefe da área de metais e minerais da comercializadora Trafigura, que tem sede em Cingapura, disse que a cotação do cobre provavelmente superará a marca de US$ 10.845 por tonelada atingida em março de 2022 e que poderia chegar até os US$ 12 mil.
“Nos próximos 12 meses, considero muito provável que vejamos um novo pico”, disse Bintas, na conferência “FT Commodity Global Summit”, em Lausanne, na Suíça. “Qual é o preço de algo que o mundo inteiro precisa, mas do qual não temos nada?”
O Goldman Sachs projeta que o mundo ficará sem estoques visíveis de cobre por volta do terceiro trimestre deste ano se a demanda na China continuar a crescer no mesmo ritmo de fevereiro.
Em fevereiro, a demanda chinesa por cobre aumentou 13% na comparação anual, de acordo com o banco, depois da recuperação das atividades após o Ano-Novo Lunar, que neste ano caiu em um período mais cedo do que em 2022. O Goldman Sachs calcula que a cotação do cobre pode chegar a US$ 10,5 mil por tonelada no curto prazo e a US$ 15 mil em 2025.
“As perspectivas futuras são extraordinariamente positivas”, disse Jeffrey Currie, chefe global de análise de commodities do Goldman Sachs.
Ele acrescentou que “assim como na década de 2000 com o petróleo, na década de 2020, você absolutamente precisa amar o cobre”, referindo-se à diferença de 5% entre a oferta e a demanda que levou o petróleo Brent a subir de US$ 20 para quase US$ 150 por barril, sendo que agora há uma expectativa de diferença de 15% para o cobre nesta década.
O cobre tem sido o metal industrial de melhor desempenho neste ano, acumulando alta de 6%, enquanto outros, como o zinco e o níquel, se desvalorizaram em função da falta de força do mercado financeiro como um todo.
Apesar disso, vários estrategistas e operadores disseram que os preços das commodities não estão refletindo o suficiente a expectativa de falta de oferta.
Guillaume de Dardel, chefe de metais para a transição energética da Mercuria, uma comercializadora com sede na Suíça, disse que os preços atuais “não refletem totalmente a previsão de choques de oferta e de demanda no futuro” e que o preço das commodities está levando em conta “mais o presente do que o futuro”.
O cobre é crucial para a redução das emissões de carbono porque a substituição de combustíveis fósseis por fontes de energia renovável requer grandes quantidades do metal para a transmissão de eletricidade por distâncias mais longas, dos parques solares e eólicos espalhados geograficamente para as residências e fábricas que a consomem.
Analistas de metais disseram que a demanda por cobre tem se acelerado e sido impulsionada pelas políticas industriais de energia limpa nos Estados Unidos e na Europa, que apostam na “eletrificação”.
Executivos da área de mineração dizem que está cada vez mais difícil aumentar a oferta de cobre, diante da queda no teor do metal nas minas. O bilionário da mineração Robert Friedland disse ao “Financial Times” que levou 28 anos para desenvolver a enorme mina Kamoa-Kakula, na República Democrática do Congo, sendo expandida para produzir 650 mil toneladas anuais a partir do fim de 2024.
“Estamos rumando a um desastre de trem”, disse. A S&P Global estima que 40 milhões de toneladas de cobre serão consumidas por ano até 2030, em comparação às 25 milhões de toneladas em 2021.
O esgotamento dos estoques pode trazer volatilidade aos preços das commodities e qualquer valorização repentina poderia dificultar que produtores, comercializadores e consumidores tenham dinheiro suficiente para que cubram as exigências de margem de garantia nas operações e não tenham uma crise de liquidez.
No entanto, alguns no mercado veem motivos para acreditar que a escassez de cobre e o aumento dos preços sejam sentidos apenas mais para a frente, ainda nesta década. A BHP, a maior mineradora do mundo, informou na conferência que o volume novo de oferta no Peru, Chile e República Democrática do Congo manterá o mercado com superávit de oferta pelos próximos dois a três anos.
Marc Bailey, executivo-chefe da Sucden Financial, uma corretora de commodities londrina, concorda com essa linha e diz que prevê uma reconstrução dos estoques de cobre neste ano, com o fim dos “lockdowns” por conta da covid-19 na China.
“É da mesma forma como quando reabrimos a nossa economia, quando queríamos pensar em nós mesmos e sentir-nos bem, queríamos ir a restaurantes, viajar, ver os amigos. Não queríamos comprar casas”, disse.
Outros, contudo, disseram que o papel do cobre no processo de redução das emissões de carbono na economia mundial, somado às dificuldades no desenvolvimento de novas minas, fará com que os preços do metal vermelho decolem em breve.
“Você pode pensar no cobre quase como sendo a ‘casa’ em um casino”, disse Nick Popovic, diretor adjunto de comercialização de cobre e zinco na Glencore, referindo-se à grande probabilidade de alta nos preços. “A casa sempre ganha, não importa os gargalos e todas as idas e vindas que vemos.”