Globalmente afetada por dois grandes fatores inesperados neste ano, a guerra da Rússia na Ucrânia e o programa covid zero da China, a indústria de mineração e commodities metálicas enfrenta um momento difícil, com retração de demanda e queda de preços dos bens minerais. Mesmo assim, no Brasil, acredita-se num crescimento de ao menos 5% no valor da produção neste ano, devendo manter uma média nesse patamar até 2025.
Levantamento da consultoria TCP Partners aponta esse cenário, após analisar os vários segmentos e 11 dos principais bens minerais produzidos no país. Essa expansão ainda deve se beneficiar da forte alta que ocorreu nos preços na segunda metade de 2020 e se estendeu pelo ano passado – considerado o “ano dourado do setor” – indo até alguns meses de 2022.
A saída acelerada da crise da pandemia que se esperava para este ano, com economia pujante, foi afetada, primeiro, pela guerra na Ucrânia, no fim de fevereiro, e posteriormente pela desaceleração na China com as medidas de covid zero (lockdowns em diversas grandes cidades do país).
Mais recentemente os riscos de uma recessão global devido ao aumento da inflação jogou um balde água fria nas expectativas.
Em 2021, o setor mineral brasileiro viveu a exuberância ao registrar volume recorde de exportações de produtos minerais.
Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners, disse que o setor se mantém com elevada atração para investimentos no país. Ele aponta segmentos que vão se beneficiar disso nos próximos anos, em razão de fatores que vão direcionar as novas demandas e aplicações, requerendo aumento da oferta.
Ele cita, por exemplo, o setor de produção de minério de ferro, principal matéria-prima do aço. Na sua visão, há aperto de oferta nos próximos anos e, a partir do segundo semestre de 2023, a China voltará a normalizar sua demanda, com os ajustes internos de sua economia concluídos pelas ações do governo local. “No médio e longo prazo, a commodity está com demanda contratada”, diz. Os preços voltarão a ficar estáveis em nível elevado.
Outra vertente é a da eletrificação, que vai necessitar de bens para a fabricação de baterias de carros elétricos. Aí entram o lítio – há projetos em curso no país -, o níquel, nióbio, terras raras, alumínio e cobre. A produção de veículos elétricos vai acelerar, numa corrida até 2030, com grande procura de metais e outros materiais por fabricantes de baterias.
Um terceiro componente envolve o segmento de matérias-primas para a indústria de fertilizantes, especialmente fosfato, com reservas e projetos nas regiões Nordeste Norte do país. O ouro, devido ser usado fonte de segurança em momentos de crise, também é considerado para novos investimentos.
A consultoria levantou que a expectativa de investimento no setor para os próximos anos é superior a US$ 41 bilhões – sendo US$ 35,3 bilhões em produção e infraestrutura e US$ 6 bilhões nas áreas socioambientais.
De acordo com o estudo “Mercado de Mineração do Brasil”, o valor da produção das principais substâncias metálicas locais foi de R$ 129 bilhões em 2019, devendo ter superado os R$ 200 bilhões em 2021 com o aumento dos preços e maior demanda para recomposição de estoques e novas aplicações.
As principais substâncias minerais são, por ordem alfabética: alumínio, cobre, cromo, estanho, ferro, manganês, nióbio, níquel, ouro, vanádio e zinco. Esse grupo corresponde por cerca de 80% do valor da produção total.
O setor de mineração, informa a TCP, historicamente, cresce, em média, 1,6 vez o Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Por isso, essa projeção de ao menos 5% ao ano.